“Diálogos em Marvão”
III Colóquio "Diálogos em Marvão"

10 de Maio de 2024 no Auditório da Quinta dos Olhos d’Água

 

Domingos Bucho – Portalegre há 50 anos, uma forma desnecessária de medir se valeu a pena a liberdade.

Inês Thomas Almeida – A ação cultural de Madalena Azeredo Perdigão antes e depois do 25 de Abril de 1974.

Rui Baldaque Romão – De meio em meio século.

Laura Mello e Souza – Exilados portugueses no Brasil, c. 1950-1974: reminiscências.

Luísa Soares Oliveira – Arte e Revolução.

Elísio Summavielle – A Liberdade, ontem e hoje.

Renato Lessa – Os cravos de ultramar, nossas agruras estão presentes e nossas esperanças: visões desde o Brasil de 1974.

Pedro Calapez – Flashback; Momentos do fazer na minha obra plástica.

 

A Revolução dos Cravos e a coragem

A comemoração da importante efeméride da Revolução dos Cravos em 1974, na passagem dos seus 50 anos, é o tema que nos traz aqui reunidos à Academia Marvão situada na Quinta dos Olhos d’ Água.

Vivemos o nosso tempo presente em liberdade. O passado e o futuro não se vivem no tempo presente no sentido em que o passado já não é e o futuro ainda não existe. Irei considerar o que sucedeu em Portugal em 25 de Abril de 1974, sabendo bem que comemorar é recordar acompanhado, é celebrar com. É isso que faremos hoje com este painel de oito intelectuais, ilustres convidados da Academia Marvão que celebrarão com diversidade de enunciados o
cinquentenário do 25 de Abril de 1974.

O filósofo Thomas Berns inicia o seu livro intitulado ‘Sobre a Coragem’ com referências à coragem militar dos heróis da Antiguidade que Homero celebra na ‘Ilíada’, nomeando heróis como Heitor e Pátroclo que combatiam e não fugiam à morte. Nunca perdiam a coragem. O tema sobre o qual irei proferir uma breve reflexão é precisamente relativo ao conceito de CORAGEM, uma virtude admirada como cardinal pois é a virtude do herói. Quem não admira o ato heroico?

Cada sociedade constrói o seu panteão de bravos, de heróis e de heroínas, recordando indivíduos que resistiram como intelectuais, artistas, cientistas, militares, estudantes e até referindo pessoas comuns e sem instrução como a portuguesa Catarina Eufémia ou como a mulher estadunidense Rosa Parks. São pessoas que, vivendo em tempos sombrios, não se resignaram e não se puseram de joelhos perante as dificuldades.

Cito uma dúzia de exemplos: Agostinho da Silva, o filósofo checo Jan Patocka, líderes como Mahatma Gandhi e Nelson Mandela, o estudante checo Jan Palatch que se imolou elo fogo quando os tanques soviéticos invadiram Praga, o cientista russo Sakharov e o teólogo Martin Luther King, pessoas celebradas ao longo da história de povos que recordam indivíduos que dominaram os seus medos e tomaram de forma consciente o risco de transformar uma sociedade fazendo o que a esmagadora maioria não se atrevia a fazer: desafiaram o poder
estabelecido. Sem perder a coragem.

Recordo hoje e, a propósito do tema aglutinador desta 3ª edição dos Diálogos em Marvão, a coragem militar dos batalhões de soldados portugueses que, na noite e na madrugada de 25 de Abril de 1974, fizeram a estimativa dos riscos e das chances de sucesso para derrubar o regime caetanista.
Abandonaram os seus quartéis para se dirigirem a Lisboa e tomarem o poder, correndo sérios riscos quanto ao seu destino individual pois o fracasso implicaria prisão e castigo, tal como já tinha sucedido no dia 16 de Março de 1974, quando foi abortada uma ação militar que teve por objetivos o derrube do regime encabeçado pelo primeiro-ministro Marcello Caetano com a sociedade portuguesa exausta pelo prolongamento da guerra colonial que se arrastava desde 1961. No dia 16 de Março de 1974, cerca de 200 soldados abandonaram o Regimento de Infantaria nas Caldas da Rainha e dirigiram-se às portas de Lisboa, contando com o hipotético apoio dos regimentos de Lamego, Mafra e Vendas Novas na sua tentativa para derrubar o regime. Foi um fracasso e esses revoltosos da chamada ‘Intentona de Caldas’ foram enviados para a prisão da Trafaria. Mas portugueses não perderam a coragem. O crescente mal-estar na sociedade portuguesa levou a que os militares da ‘Intentona das Caldas’ e os seus simpatizantes continuassem na sombra os seus preparativos de forma a garantir o sucesso no dia 25 de Abril
de 1974.

Foi a aventura dos temerários que se lançaram à cabeça do pelotão nos campos de um inimigo muito superior em número e compreenderam subitamente que a derrota dos seus homens já parecia estar decidida. Mas nunca lhes pareceu que a decisão de sair do quartel para desafiar o regime era um sacrifício desesperado e inútil. Foi um ato de coragem que merece ser comemorado.

Ana Rocha, curadora

Programa 10 de Maio, 6ª feira

10H00 – Domingos Bucho – Portalegre há 50 anos, uma forma desnecessária de medir se valeu a pena a liberdade.

10H30 – Rui Baldaque Romão – De meio em meio século.

11H00 – Pausa

11H30 – Inês Thomas Almeida – A ação de Madalena Azeredo Perdigão antes e depois do 25 de Abri de 1974.

12H15 – Laura de Mello e Souza – Exilados portugueses no Brasil, c. 1950-1974: reminiscências.

12H45 – Pausa

15H00 – Luísa Soares de Oliveira – Arte e Revolução.

15H45 – Elísio Summavielle – A Liberdade; ontem e hoje.

16H30 – Pausa

17H00 – Renato Lessa – Os cravos de ultramar, nossas agruras então presentes e nossas esperanças: visões desde o Brasil de 1974.

17H45 – Pedro Calapez – Flashback, Momentos do fazer na minha obra plástica.

18H45 – Debate. Encerramento.

Oradores

Domingos Bucho

O professor e historiador portalegrense Domingos Bucho doutorou-se em Conservação do Património Arquitetónico na Universidade de Évora e especializou-se em Arquitetura Militar. Foi o coordenador da candidatura de Elvas a Património Mundial da UNESCO, aprovada em 2012. A sua obra publicada em 18 livros abrange não apenas áreas do património construído, mas também etnografia e investigação do património histórico na vila de Marvão.

 

Rui Bertrand Baldaque Romão

O filósofo Rui Bertrand Baldaque Romão é professor associado na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Na sua investigação, apresentam-se como temas de eleição o cepticismo, as filosofias moderna e contemporânea, a filosofia política e a estética. As suas publicações incluem ‘A Apologia na Balança’ e ‘Quid? Estudos sobre Francisco Sanches’, ‘Montaigne e a Modernidade’.

 

Inês Thomas Almeida

A musicóloga Inês Thomas Almeida é professora convidada no doutoramento em Estudos de Género da Universidade Nova de Lisboa. Doutorada em Ciências Musicais Históricas, é investigadora no Centro de estudos de Literatura e Tradição no Projeto Relit-Rom com bolsa da FCT. É membro da Sociedade Austríaca de Investigação no Século XVIII. A sua publicação mais recente em coautoria com Rui Vieira Nery intitula-se “Vamos Correr Riscos”.

 

Laura de Mello e Souza

Laura de Mello e Souza é uma  historiadora  e professora universitária  brasileira . É autora de estudos pioneiros em áreas como história sociocultural e político-cultural de grande importância para a  historiografia da História Colonial do Brasil, como por exemplo, o livro ‘ O Diabo e a Terra de Santa Cruz ’. Lecionou por mais de três décadas na  Universidade de São Paulo (USP) e foi professora-titular da Cátedra de  História do Brasil  na  Universidade Sorbonne .

 

Luísa Soares de Oliveira

A crítica de arte Luísa Soares de Oliveira é licenciada pela Université de Paris I – Panthéon Sorbonne e doutorada pela Universidad Politécnica de Valencia. Professora adjunta na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha desde 2001, colabora regularmente com a imprensa e assinou dezenas de curadorias de exposições, nomeadamente o projeto bianual Landart Cascais. É investigadora do Instituto de História da Arte.

 

Elísio Summavielle

O historiador e gestor cultural Elísio Summavielle foi presidente do Centro Cultural de Belém entre 2016 e 2023. Foi subdiretor-geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, presidente do IPPAR, IGESPAR, Secretário de Estado de Cultura e diretor-geral do Património Cultural.

 

Renato Lessa

O filósofo Renato Lessa é professor titular aposentado da Universidade Federal Fluminense, catedrático da Pontifícia do Rio de Janeiro, diretor do Centro Primo Levi na mesma universidade e investigador associado do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e da Lettres Sorbonne Université. Presidiu à Biblioteca Nacional de 2013 a 2016. A sua publicação mais recente intitula-se ‘O Cético e o Rabino’.

 

Pedro Calapez

O artista plástico Pedro Calapez começou a participar em exposições nos anos 70, tendo a sua primeira exposição individual em 1982. Os seus trabalhos têm sido mostrados na Bienal de Veneza e na Bienal de São Paulo, bem como em diversas galerias e museus na Europa e nos Estados Unidos. As suas mais recentes exposições foram na Galeria Padrilla de Madrid e na Galeria Fernando Santos no Porto.

 

Ana Rocha

Licenciatura e mestrado em Filosofia. Investigadora, professora, conferencista, curadora do ciclo de conferências “Diálogos em Marvão”, repórter musical no semanário Expresso e no vespertino A Capital’. Autora das peças de teatro A Origem do Mundo e Antero Q, publicadas nas edições Húmus. Em 2023, a companhia do Teatro da Garagem apresentou a sua produção de Antero Q nos palcos de Lisboa, Évora e Genebra. Com o título A Arte da Fuga, prepara o seu novo livro sobre Wagner.