Marvão está no melhor caminho possível para se tornar num Centro Internacional para a Música e as Artes. O objetivo que se persegue é o de criar algo que Portugal não tem ainda; e que contribuirá, significativamente, para a atratividade do País nas áreas da Cultura e da Educação. Naturalmente, a ideia funda-se na beleza do Festival de Música de Marvão e no sucesso que ele já atingiu; e, principalmente, no espírito do lugar que o torna tão autêntico e tão irresistível.
Por toda a Europa a qualidade da formação musical no escalão profissional é muito alta. Portugal não é exceção. Mas o que falta na maioria dos países é uma formação avançada para os “Melhores entre os Melhores”: para os alunos que, estando a finalizar os seus estudos, já atingiram patamares elevados – reconhecidos, nomeadamente, através de prémios em concursos internacionais de música – e que, sendo jovens artistas, já com alguma experiência performativa, estão ainda à procura de acompanhamento e aprofundamento ao nível internacional mais elevado possível.
A Academia Internacional de Música de Marvão deveria oferecer, 8 a 10 vezes por ano, masterclasses de uma a duas semanas para entre 10 e 24 músicos jovens, portugueses e estrangeiros. A Academia convidaria professores e músicos de grande distinção, de todo o mundo, para ensinar e tocar. A limitação das classes de música a 24 radica no facto de tal permitir várias combinações virtuosas: 12 + 12 estudantes de instrumento ou voz; até 6 quartetos de cordas ou outros ensembles; e tem a dimensão de uma orquestra de Câmara.
Para a população de Marvão e do Alentejo circundante, a Academia seria atrativa, pois propiciaria concertos de altíssimo valor por músicos excecionais, durante todo o ano. Esses concertos, tornando-se referência, atrairiam, sucessivamente, mais turistas, nacionais e de fora de Portugal.
Todavia, faz sentido combinar uma Academia de Música com uma Academia para Artes e Ciências. Os programas multi-disciplinares em que se fazem coabitar a imaginação e o conhecimento dos artistas com os dos engenheiros e cientistas são uma tendência crescente. A cultura dessas coabitações -ou “colisões” como alguns preferem- leva à criatividade e, desse modo, pode revelar-se fundamental para a sociedade. Ora, estamos num lugar com grande interesse arqueológico e histórico. Estamos dentro de um Parque Natural onde a Biologia e a Geologia, em particular, assumem grande importância. Poderia haver seminários e outras iniciativas letivas para, por exemplo, arqueologia, arquitetura, história e ciências exatas e naturais, nalguns casos combinadas com atividades de campo baseadas na Academia. Poderia haver ações cruzadas e pluri-disciplinares, o que ajudaria a promover o diálogo entre artistas e cientistas de diferentes áreas. Celebrar e investigar a biodiversidade de Marvão, com músicos e outros artistas a trabalhar com geólogos, químicos, cientistas do ambiente, biólogos, etc, faz sentido e configura uma visão integrada que vem sendo cada vez mais aceite.
O conjunto de essas ações permitiria, simultaneamente, uma gestão mais inteligente – com acrescida visibilidade e reforço positivo da ideia central – e mais sustentável dos espaços em causa. Em paralelo, permitiria a adesão crescente da população e dos políticos locais, ligados à sua terra e dela orgulhosos.
A Academia deveria, ainda, ser capaz de representar os interesses do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, assumindo-se como um ponto central para turistas e visitantes que quisessem explorar e disfrutar a incrível Natureza que o Norte Alentejano tem para oferecer. E que a associação com Arqueologia, Arquitetura, Música, Artes ou Ciências tornaria ainda mais atrativa.
O lugar de Marvão e o ambiente que, cercando-o, está em simbiose com ele têm sido a chave para a construção da ideia singular que o Festival representa. Também no caso da Academia, Marvão, com a arqueologia da região e a extraordinária reserva natural -em termos ambientais e da sua biodiversidade ajudariam à concretização de um conceito único, ao nível da Europa, de um programa de residências onde música, arqueologia e ciências ambientais “colidissem” entre si.
O edifício dos Olhos d’Água representa uma instalação e uma localização perfeitas. Sem quaisquer remodelações significativas, pode ser facilmente ajustada às necessidades da Academia.
Estamos, neste momento, num processo de criação de um círculo de Instituições de Ensino Superior (Universidades e Institutos Politécnicos) e de Fundações – portuguesas e do exterior – que, encabeçado pela Câmara Municipal de Marvão, configure uma Associação para os fins em vista. As Universidades de Évora, Aveiro, Minho, Nova de Lisboa e da Extremadura (Espanha); os Institutos Politécnicos do Porto e de Castelo Branco; e as Fundações Anja Fichte Stiftung (Alemanha), Ammaia e Robinson (Portalegre) são as entidades já contactadas -todas, naturalmente, porque identificáveis com a especificidade do projecto. As reações foram muito positivas, sendo manifesto que a Academia constituirá um parceiro atrativo para todas estas instituições.
O contributo financeiro das instituições aderentes, por contrapartida da possibilidade de usufruir dos programas de ensino e aprendizagem, a par das propinas dos estudantes – ou de fontes de financiamento que garantam bolsas que as suportem – será importante na sustentabilidade económica do projeto. O apoio ou o mecenato por parte de quem, esperamos, venha a compreender o virtuosismo e a singularidade do projecto será sempre parte determinante no atingir os patamares de excelência e inovação pretendidos.
É importante referir que estando implícitas numerosas possibilidades, a instalação dos programas concretos terá que obedecer a escolhas criteriosas: nunca fazer demasiado nem depressa de mais e nunca num âmbito demasiado alargado e abrangente!
Dado o facto de que a Academia estará em condições de oferecer 30 ou mais concertos de alto nível por ano, uma visão de longo termo deve incluir a ideia de construir uma sala de concertos (e conferências), com o projeto a cargo de um dos melhores arquitetos portugueses. No entanto, o processo de criação e instalação da Academia não deve estar, e não estará, dependente deste desígnio, que sendo coerente com o propósito em causa, só pode ser encarado a um prazo distante. Em qualquer dos casos, existe a firme intenção, dentro do programa do Festival Internacional de 2017, de pôr de pé um Simpósio que permita afinar conceitos e estratégias; e que possa ser o plantar definitivo da visão que aqui se propõe.
Prof. Christoph Poppen
Director Artístico do Festival Internacional de Música de Marvão
com
Prof. Manuel António Assunção
Reitor da Universidade de Aveiro e Presidente da Orquestra Filarmonia das Beiras